quinta-feira, 2 de março de 2017

Uma viagem a índia

Dissertação

O escritor e professor universitário Gonçalo Manuel de Albuquerque Tavares, mais conhecido por Gonçalo M. Tavares, tem tido muito êxito no mundo da literatura. Alem disso, as obras feitas por ele deram inicio a muitas inovações no mundo humanístico; como o foi no teatro, na musica entre outras áreas. Suas obras obtiveram mais de 200 traduções e se têm distribuído em quarenta e cinco países, e assim ele tem ganhado vários prêmios em Portugal e no estrangeiro. 

Este escritor é conhecido também pela obra “Uma viagem a índia”, uma grande peça literária que tem de ser lida sem duvida nenhuma, pois, nesse romance se propõe uma sorte de epopéia (literatura: extenso poema narrativo onde o divino se confunde com a realidade, e a lenda com a história, geralmente invocando algo ou alguém de valor extraordinário, conceito tomado do Wikizionario do telefone), onde a personagem principal, um herói chamado Bloom faz uma viagem na que ele vai apreender muitas coisas, entre elas serão a sabedoria que nele está presente, e, sobretudo apreender a aceitar o desconhecido, já que é simplesmente a vida de um homem representada numa jornada física e espiritual. Bloom sai desde a sua cidade-berço Lisboa, passa por Londres e Paris, até que enfim chega na Índia. 

No entanto, a viagem não vai ser tão simples como o pode parecer, pois, o que quer a personagem principal é fugir da realidade e ir para além, visto que ele com o assassinato de sua namorada matou seu pai por retaliação, pois ele teve a culpa toda do homicídio de seu grande amor.

De tal modo, é então que ele sai na procura do esquecimento e da liberdade, fazendo uma viagem que o levará por caminhos desconhecidos e incertos, onde ademais conhecerá pessoas de diferentes maneiras de pensar nas distintas cidades encontradas. 

“Uma viagem a índia” é um romance que não só vai abordar a vida de um homem, se não que também tentará deixar como ensino moral aquele caminho que às vezes uma pessoa pode tomar sem pensar nas conseqüências; na vida haverá momentos nos que o próprio indivíduo terá de pensar antes de fazer as coisas, já que com os sinais que o próprio universo nos mostra poderíamos ter a resposta ao inquestionável. 

Assim, o titulo da obra “Uma viagem a índia” é mesmo o reflexo da palavra “destino”, pois a viagem faz relação com nosso caminho, nosso dia a dia; e a índia não é mais que esse viver e ter vivido, pois é o fim de tudo, o bom senso, a eternidade e o alcançado ou obtido na vida. 

Deste modo, pode-se notar que o romance foi escrito com um estilo particular e o autor, Gonçalo Tavares, logra que o livro tenha essa relação com a obra Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, visto que têm a mesma divisão de segmentos feita em cantos e estrofes, pois o romance é dividido em dez cantos.

Embora, o livro mostra-se em geral mais livre no que diz respeito à estrutura, visto que a mesma é mais aberta, não tem restrições métricas e está consagrada em rimas da epopéia clássica, o qual a faz mais descontratada, acessível e moderna. Isto se comprova no prefácio do romance quando se fala na pagina 14 da relação novamente que existe com Os Lusíadas, e se diz que: “uma viagem ao fim do nosso fabuloso presente como glosa interminável da existência como tédio de si mesma”. 

Além disso, o romance revela e tem um mistério que pouco a pouco vamos descobrindo, pois o desconhecido na historia é uma das coisas para estudar; já que desde o inicio nota-se que o narrador nomeia lugares o fatos dos quais ele não quer dizer nada, e acaba por contar só a vida e o que acontece no mundo de Bloom, homem que mostra o modernismo ainda mais ao pertencer ao século XXI. 

O desconhecido está presente na história de duas maneiras diferentes, no primeiro lugar o narrador nomeia e declara fatos dos que ele não quer falar, como o foi o caso do Vesúvio, das ruínas de Stonehenge, dos acontecimentos naturais da história e do mundo, dos terramotos, entre outros. Na mesma, o desconhecido para o leitor mesmo, já que pode ser que o leitor também não saiba o que ele estava falando, às vezes falar de coisas ou acontecimentos pode ser fácil e quem dirá que você não sabe o que está falando se se evidencia uma segurança em seu tono, em suas expressões, e neste caso, na escrita, mas o que o vai aclarar é justamente a justificação, e nesses exemplos não se percebem nenhuns dentro da especificação. 

Por outro lado, o próprio narrador é quem fala para o Bloom e aclara como é que ele vai crescer e nesse processo ele detalhará e observará o que a vida tem para ele, coisas estranhas, bizarras e enigmáticas, nesse desconhecimento há também um ensino, já que o mesmo narrador lhe diz como são algumas coisas, um exemplo disso se evidencia na estrofe 22: 

“os deuses atuam

como se não existissem, e assim

não existem, de fato, com extrema eficácia.

É verdade que entre deuses 

existe uma hierarquia, 

exatamente como entre os brutos

numa carpintaria 

ou entre os carregadores de mercadorias 

de certos portos da Europa...”



É precisamente em este exemplo que fica claro como o narrador não só mostra deixar o desconhecido como o enigmático da historia, mas também mostra a verdade e conhecimento que ele tem ao esclarecer as idéias de Bloom, que mais do que uma criança, ele mostra-se ingênuo diante da vida e dos saberes que este tem dela. 

Quanto à estrutura morfológica os verbos, a conjugação e os modos temporais também jogam um papel importante nesse romance para nos indicar quando alguma coisa não vai ser esclarecida de forma simples, pois o desconhecido para a personagem principal é mais do que um caminho ou uma viagem com um destino definido, um exemplo disto se evidencia na estrofe 70: 

“Bloom procurava o insólito que não

sendo acontecido mudo ou ruído, sendo

sitio, obriga a caminhar. Se o que procuro 

chegasse a minha cadeira. 

para que me serviriam os sapatos? Mas é já

um conhecimento clássico: acontecimentos novos 

existem em espaços novos, e não em antigos. 

Não deixes que a tua cadeira confortável prejudique 

a tua curiosidade”. 



Ao fazer uma analise morfológica da frase se pode notar a intenção e o saber do narrador e da personagem principal, na frase: Bloom procurava o insólito... →

Sujeito: Bloom

Verbo: Procurar, do primeiro grupo, conjugado no pretérito imperfeito do modo indicativo, na terceira pessoa do singular. 

Determinante: o, artigo definido. 

Adjetivo: insólito, que não é habitual ou comum. 

Uma vez classificados os termos, se pode ver passo a passo como Bloom não conhecia muitas coisas, e o que ele queria apreender estava centrado em como perceber novas formas de comportamentos ou maneiras de agir e ver a vida.

Isto também fica claro nesta outra frase: Se o que procuro chegasse a minha cadeira. Para que me serviriam os sapatos? Nesta hipótese pelo sentido da frase se evidencia através do pretérito imperfeito do subjuntivo e com o condicional que há uma presença de duvida ou de incerteza, já que o próprio Bloom não sabe o que fará ou faria de acontecer isso. 

Em resumo, isto mostra como o desconhecido pode ir desde uma palavra até uma ação, pois no romance tanto o narrado como o protagonista se questionam de muitas coisas da vida e no meio de tudo está presente a própria palavra “viagem”, pois é justamente nesse sentido que vamos descobrir os segredos e os mistérios que há em cada uma das paradas ou mudanças dos caminhos, pode que também existam atalhos nos que nós não saibamos nem como entrar ou nem como sair. 

Além do levantamento do desconhecido dentro do romance “Uma viagem a índia”, outro tema interessante para abordar é a transtextualidade que está presente nesta obra literária, pois existem outras obras que mostram as mesmas características deste relato. 

A transtextualidade segundo Gérard Genette, em Palimpsestes cinco são os tipos de relações transtextuais:

• Intertextualidade, considera-se a presença efetiva de um texto em outro texto. É a coopresença entre dois ou vários textos. 

• Paratextualidade, representada pelo titulo, subtítulo, prefacio, posfacio, notas marginais, epígrafes, ilustrações. Este campo de relações é muito vasto e inclui as notas marginais, as notas de rodapé, as notas finais, advertências, e tantos outros sinais que cercam o texto, como a própria formação da palavra está a indicar. 

• Metatextualidade, vista como a relação critica, por excelência. É a relação de comentário que une um texto a outro texto. 

• Arquitextualidade, que estabelece uma relação do texto com o estatuto a que pertence, incluídos aqui os tipos de discurso, os modos de enunciação, os gêneros literários, etc. em que o texto se inclui e que tornam cada texto único. 

• Hipertextualidade, toda relação que une um texto (texto b-hipertexto) a outro texto (texto a- hipotexto) 

Genette esclarece que seu conceito de transtextualidade alcança “tudo o que coloca (um texto) em relação, manifesta ou secreta, com outros textos”, ou seja, aquilo que ele chama de relações transtextuais. 

Ao saber o que é transtextualidade e ter claramente uma idéia do que nela se estuda se pode assegurar que o romance “uma viagem a índia” é um texto transtextual, já que apresenta relações com obras literárias como: João sem medo do escritor José Gomes Ferreira, O cavaleiro da armadura enferrujada de Robert Fisher, o conto A viagem da escritora portuguesa Sophia de Mello Breyner e Os lusíadas de Luís Vaz de Camões, pois é importante ressaltar que as historias são de escritores diferentes com datas de publicações diferentes, mas com a mesma linha literária e com uma mensagem semanticamente parecida. 

Além disso, ao realizar este estudo se levará em conta cada uma das obras literárias a relacionar com o romance “uma viagem a índia” de maneira individual, para começar se estabelecerá a afinidade de João sem medo do escritor José Gomes Ferreira com a obra. 

“João sem medo” é um conto contemporâneo, cheio de aventura, humor e mensagens para ultrapassar as fronteiras e os obstáculos da vida, a personagem principal se chama João sem medo, ele mora numa vila chamada Chora-que-logo-bebes, e a história se desenvolve na partida de João quando este ultrapassa o muro que divide a vila doutro mundo desconhecido, em que só a viagem que ele vai fazer lhe dirá ou mostrará o que existe na vida fora do que já se conhece. 

Neste caso se pode dizer que a transtextualidade que existe entre João sem medo e A viagem a índia é de três tipos: 

• Intertextualidade: se considera que este tipo esta presente pelas características das personagens, já que as duas estão na procura do desconhecido e da aventura. 

• Metatextualidade: se aprecia que está presente pelas criticas que os dois textos têm na atualidade, pois, são obras muito conhecidas e criticadas pelo mundo inteiro. 

• Hipertextualidade: se percebe de uma forma mais profunda e está presente nos textos, pois a relação da conduta, da maneira de se comportar diante da sociedade são muito parecidas, sobretudo as relações internas da personalidade das personagens como o que acham da vida, os pensamentos e o humor.

Em seguida temos “O cavaleiro da armadura enferrujada”, neste caso se fala de uma personagem com características de cavaleiro de séculos passados, que por querer governar e liderar da melhor maneira mandou-se enferrujar a armadura até chegar ao ponto de não interagir com sua família, como se os fosse perdido a todos nas batalhas, e depois de encontrar-se nessa situação decidiu partir na pesquisa de alguém que o ajude tirar a armadura de seu corpo, nessa viagem a personagem conhece novos episódios da sua vida e vê melhor o que para ele pareciam coisas simples. 

Ao conhecer está história podemos fazer a relação imediata com uma viagem a índia, e encontramos que a semelhança entre as personagens é evidente, por isso se pode dizer que cumpre com dois tipos de transtextualidades: 

• Arquitextualidade: visto que existe um grande parecido entre as personagens e a trama da história, este recurso é evidente, pois o modo de enunciação é o mesmo e o gênero literário é igual. 

• Hipertextualidade: esta característica está presente nos textos porquanto há muitas semelhanças nas personagens, de maneira psicológica e social. Quando vemos a conduta do cavaleiro e do Bloom se faz evidente o desejo de deixar atrás as coisas que torturam os pensamentos e não deixam que ambos possam viver felizes. 

A seguir encontra-se o conto “a viagem”, uma narrativa que tem como personagens principais a um casal, um homem e uma mulher, que começam uma viagem, na qual segundo os acontecimentos vão deixando de pouco a pouco as pertenças materiais e sentimentos pessoais. O desconhecido neste conto vai desde os espaços geográficos até as condutas das personagens.

É por isso que a relação deste conto com “uma viagem a índia” está altamente ligada a paratextualidade, pois os dois estão relacionadas pelos títulos das peças literais. 

E a outra relação transtextual que existe é a hipertextualidade, já que não só a viagem faz referencia imediata a este recurso, também a perdida do amor está presente em ambos os textos. 

Dessa maneira chegamos ao ultimo texto para relacionar e detalhar a transtextualidade presente, este é o romance de Os lusíadas de Luís Vaz de Camões, é importante ressaltar que esta obra literária ainda não tem sido estudada, e por isso a informação dada vai ser muito pouca, dessa maneira se pode dizer que a transtextualidade presente entre este romance e a viagem a índia são de quatro tipos: 

• Paratextualidade, pois o texto se encontra organizado da mesma maneira, é dizer, se constrói de dez cantos e muitas estrofes. 

• Metatextualidade, já que ambas escritas literárias estão ensambladas pelas mesmas criticas literárias, e, não existe um só estudo onde ambas não sejam mencionadas. 

• Intertextualidade e hipertextualidade, visto que ambas estão unidas e tanto as personagens como as condutas, os pensamentos, os objetivos e as mensagens do desconhecido estão presentes nas duas escritas.

Finalmente, pode-se notar como o estudo da obra “Uma viagem a índia” é abordada desde o tema central, as personagens, as mensagens, as estruturas gramáticas ou morfológicas e as relações transtextuais, pois esta obra de Gonçalo M. Tavares, é tão rica nas estruturas literárias que seria impossível falar, nomear o fazer um só levantamento de um estudo em especifico. Além disso, é importante dizer que está é um romance pratico para ler e seria recomendável para as pessoas que gostam das leituras contemporâneas. 

“Pior que não terminar uma viagem é nunca partir” 

Amyr Klink.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Mais do infinitivo pessoal


Infinitivo pessoal vs. impessoal parte 3


Infinitivo pessoal vs. impessoal parte 2


Infinitivo pessoal vs. Impessoal


Futuro do Subjuntivo


Poema da morte de Shakespeare


SONETO LXV
William Shakespeare


Se a morte predomina na bravura
Do bronze, pedra, terra e imenso mar,
Pode sobreviver a formosura,
Tendo da flor a força a devastar?
Como pode o aroma do verão
Deter o forte assédio destes dias,
Se portas de aço e duras rochas não
Podem vencer do Tempo a tirania?
Onde ocultar - meditação atroz -
O ouro que o Tempo quer em sua arca?
Que mão pode deter seu pé veloz,
Ou que beleza o Tempo não demarca?
Nenhuma! A menos que este meu amor
Em negra tinta guarde o seu fulgor.

Luan Santana - Te Vivo


Uma musica para demonstrar que a vida passa rapido e que tudo o que temos de fazer é viver o dia à dia

Fonte: https://youtu.be/dWpGsK8Md28


A morte... o que é a morte?









fonte: https://youtu.be/xI6VbDW60is

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Estudo da poesia de Fernando Pessoa
A poesia é a única parte da literatura que não tem uma definição apropriada de maneira geral, ela é tão antiga quanto à sua existência. Você saberia responder o que é poesia? Para que serve a poesia? Ou então, por que muitos tentam e só alguns conseguem criar poesias? Para provar a antiguidade dessas questões, existe o livro A República, de Platão, no qual o filósofo grego debatia estas questões levantadas no começo do parágrafo.
Uma das definições da poesia vem do termo latim poēsis, que, deriva de um conceito grego. Trata-se da manifestação da beleza ou do sentimento estético através da palavra, podendo ser sob a forma de versos ou de prosas. Em todo o caso, o seu emprego mais usual está relacionado com os poemas e com as composições em verso. Tomado de: http://conceito.de/poesia
Ao falarmos da poesia existem muitos nomes que farão referencia imediata com este estúdio, mas, na língua portuguesa existe um homem que foi capaz de mudar os pensamentos e as caraterísticas de grandes poetas, leitores e inclusive escritores dos séculos passados; esse poeta leva como nome Fernando Pessoa, escritor, tradutor e poeta vanguardista.
Por um lado, a poesia pode ser evolutiva porque ela vai sempre depender de quem a escreve, neste caso fala-se de Fernando Pessoa e Alberto Caeiro, num referente de três poemas: Quando vier a primavera, A morte chega cedo e O menino de sua mãe; nos quais as ideias podem parecer semelhantes e inclusive ter um fio condutor parecido, mas a intenção e os sentimentos são mostrados de maneiras diferentes.
Quando vier a primavera, é um poema escrito por Alberto Caeiro, um dos heterônimos de Fernando pessoa, no qual o tema principal é a morte, uma morte diferente, uma morte que a pessoa já conhece uma morte aceite, uma morte cheia de vida por nela o processo natural esta composto pelo processo evolutivo da humanidade; é isso o que o poeta mostra em cada verso e em cada uma das palavras utilizadas.
A morte chega cedo, neste poema Pessoa fala de maneira objetiva da vida e da morte que muitos tendem a ignorar. Não importa a classe social ou a raça ou o amor pela vida, um dia todos falecem, pois a morte chega cedo. As pessoas podem viver hoje e falecer amanha, pois a morte é imprevisível e uma das piores coisas em morrer é acabar a vida sem ter feito o que mais queríamos, e é justamente isso o que o autor quer dizer-nos, o que eu também poderia nomear de Carpe Diem em lati, pois, às vezes temos de viver como se fosse o ultimo dia.
O menino de sua mãe, é outro dos poemas fortes de Pessoa no qual pode-se ver: a presença da vida, a dor da família, a juventude do menino e a morte já materializada; além disso, percebe-se a presença da mãe em cada uma das linhas, pois, só uma mãe poderia relatar a perca de seu filho. Não obstante, também poderia ser o próprio Pessoa quem pode estar falando da sua via e de como a juventude que ele tinha foi desaparecendo.
Por outro lado, estão as caraterísticas de cada poeta, neste caso Pessoa caracterizava-se por: mostrar uma identidade perdida, ter consciência do absurdo da existência, apresentar a  sinceridade, fingimento, consciência, inconsciência, sonho e realidade, mostrar a  oposição dos sentimentos, dos pensamentos. Além disso, ele mostrava o anti-sentimentalismo através da  intelectualização da emoção e por ultimo a auto-análise que ele deixava em suas obras.

Enfim, a poesia vai mostrar sempre distintos aspectos que possam ser diretos ou indiretos, mas os sentimentos sempre farão parte dela; justo isso nos mostrou Pessoa, e, sobre tudo está presente a aceitação da morte e o gozo da vida para não ter coisa alguma de que se arrepender. 

A Morte Chega Cedo


A morte chega cedo,
Pois breve é toda vida
O instante é o arremedo
De uma coisa perdida.

O amor foi começado,
O ideal não acabou,
E quem tenha alcançado
Não sabe o que alcançou.

E tudo isto a morte
Risca por não estar certo
No caderno da sorte
Que Deus deixou aberto.

Fernando Pessoa, in 'Cancioneiro'
// Consultar versos e eventuais rimas

O Menino de Sua Mãe

No plano abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
— Duas, de lado a lado —,
Jaz morto e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino da sua mãe».

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lha a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
«Que volte cedo, e bem!»
(Malhas que o império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.

Fernando Pessoa, in 'Antologia Poética'


Quando Vier a Primavera



Quando vier a Primavera,

Se eu já estiver morto,

As flores florirão da mesma maneira

E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.

A realidade não precisa de mim.




Sinto uma alegria enorme

Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma




Se soubesse que amanhã morria

E a Primavera era depois de amanhã,

Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.

Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?

Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;

E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.

Por isso, se morrer agora, morro contente,

Porque tudo é real e tudo está certo.




Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.

Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.

Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.

O que for, quando for, é que será o que é.




Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"

Heterónimo de Fernando Pessoa

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